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Fatias perfeitas.
Estou prestes a completar 29 anos.
Seria arriscado comentar que tenho uma prática comum nas vésperas desta esperada ocasião, pois não me recordo se realmente repito este gesto anualmente. Porem, tenho certeza de ter feito isto mais de três vezes durante minha empolgante vida.
Assim como muitos outros seres sensíveis e incorrigivelmente saudosos, eu tenho um baú de memórias.
Na verdade, é uma velha caixa de sapato, um tanto empoeirada, e de uma simplicidade coerente com o seu uso padrão, ou seja, guardar um par de calçados. Mas olha que interessante.
Ela já não acolhe sapatos. Não há cadarços nem palmilhas no seu interior. Agora, ela tem a missão de proteger as pegadas que o forte vento do esquecimento deseja apagar.
Demorei-me falando da caixa e me esqueci de partilhar qual é minha mania anual.
Nos dias que antecedem a data de 7 de outubro, eu vou a este cofre repleto de lembranças e passo a recordar o que já fiz, quem fui e com quem trilhei trechos do caminho da minha historia. E este tranquilo sábado foi o momento escolhido para tal viagem.
Senti os olhos úmidos e perdidos. Procuravam ao redor os corações amados que enxergavam nas cartas, fotos e cartões.
Li, emocionado, as poucas palavras da minha avó Áurea. Ela nunca esqueceu nenhum dos meus aniversários e adorava comprar presentes e dar cartões. Depois de me entregar um tanto de dinheiro nas mãos, me perguntava: – Isto dá pra comprar alguma coisa que você quer? - Eu apenas respondia com um sorriso e me preparava para gastar tudo em doces. Que saudade!
E o tio Carmelito? Eu poderia escrever um livro contando a história deste homem complexo e irmão mais velho do meu pai.
Ele foi um grande amigo, mesmo com todos os seus problemas com o álcool. Tenho dois cartões dele.
Fotos eu não possuo muitas. São alguns registros que não abro mão de ter comigo. Enxerguei sonhos enquanto desbravava o Álbum inteiro. Entre as gravuras, estava a alegria de um brother que, depois da adolescência dividindo quadras de futebol com a galera, foi seduzido pelo crime e morreu em um assalto mal sucedido a um carregamento de ouro. Lembrar, doeu.
E as cartas escritas a mão? Todas lindas! Lidas e relidas com gratidão. Quanta gente maravilhosa já sorriu colado ao meu sorriso.
Sou um abençoado. Experimentei fatias perfeitas deste incrível bolo que ainda não chegou ao fim – a vida!
Thiago Grulha
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Tragam-me um silêncio bondoso. A sensação de estar protegido. Um conselho generoso. Uma resposta ao meu pedido. Abram a porta da vida. Emperrou a fechadura. A chave foi esquecida. A noite está tão escura. Ouço um passo que se aproxima. …
Queremos!
Queremos um lugar especial. Pés e alma enraizados num mesmo chão. Cenário tão sublime que nosso sentimento esteja completamente derramado. Um lugar sem saudades. Sem dúvidas. Lugar onde estamos felizes de estar. Um cantinho onde cabe o universo e suas …